"No nível econômico e social, a ideologia de gênero faz com que as pessoas, na medida em que exacerbam seu individualismo, tenham comportamentos cada vez mais consumistas, buscando realizar suas fantasias (...). O mercado simplesmente agradece a esses sujeitos (...). E no nível político a ideologia de gênero também assume uma função alienadora e de controle social (similar à que na periferia do Rio de Janeiro o funk e as drogas exercem para as massas depauperadas) que, para o sistema, é muito útil, na medida em que desvia a atenção das pessoas daquilo que é visceral e realmente importante para questões de importância nula ou ínfima.
No Brasil, para um empresário da FIESP, um barão do agronegócio, um banqueiro que todo ano lucra horrores através das altíssimas taxas de juros e amortizações do serviço da dívida que o governo todo ano lhes paga, um gerente de uma multinacional aqui estabelecida ou um magnata da grande mídia, o que é melhor: o povão se refestelar em uma parada gay, ou ir para as ruas protestar por CIEPs, saúde pública de qualidade, auditoria da dívida pública, reforma agrária, regulação da grande mídia, reestatizar as estatais que foram privatizadas durante a privataria no governo FHC ou controle das remessas de lucros das multinacionais, entre outras coisas que mexam com seus privilégios?
Ou a nível internacional, para alguém a exemplo dos banqueiros do JP Morgan, Goldman Sachs, da Fundação Ford, Fundação Rockefeller, o dono de algum dos fundos abutres com os quais a Argentina teve problemas recentemente ou para o megaespeculador e narcotraficante George Soros, o que é melhor: que o povo vá para as ruas protestar por liberação de drogas como maconha e cocaína, casamento entre pessoas do mesmo sexo e aborto ou que vá para as mesmas ruas protestar contra o seu poder e pedir que haja punições a essas figuras ligadas ao mundo rentista por sua ciranda econômica de sempre que arrasta nações inteiras na miséria, similar ao que aconteceu na Islândia em 2008?
Óbvio que eles preferem a primeira opção para ambos os casos.
E, do alto de sua tacanhice, a direita liberal brasileira e seus diversos representantes como Jair Bolsonaro, Marco Feliciano e Olavo de Carvalho costumam tratar a ideologia de gênero como “coisa de comunista”, que “o PT comunista está querendo implantando o kit gay nas escolas” e outras baboseiras retóricas, sendo que em realidade a ideologia de gênero de comunista nada tem. Muito pelo contrário, ela é produto da inevitável decadência capitalista. A paranoia anticomunista de fundo macarthista dessa direita é tamanha que ela vê o comunismo que eles tanto usam como espantalho ideológico e retórico em todo lugar.
Entretanto, existem algumas figuras de esquerda que defendem esse tipo de coisa como a ex-petista Marta Suplicy e os psolistas Jean Wyllys e Luciana Genro, só que eles em realidade não passam de esquerdistas com retórica liberal, os quais politizam questões particulares de uma pessoa e colocam de segundo plano para baixo as reais reivindicações populares. Estão muito longe de serem comunistas no mesmo patamar de líderes como Lenin, Stalin, Khorloogin Choibalsan, Mao Tsé Tung, Kim il-Sung, Kim Jong-il, Enver Hoxha, Erich Honecker, Fidel Castro, Salvador Allende e tantos outros. Politica e ideologicamente, Jean Wyllys e companhia limitada estão muito mais próximos de figuras como o ex-presidente uruguaio José Mujica, o atual presidente francês François Hollande e o atual presidente estadunidense Barack Obama. E, além disso, esses elementos de esquerda que são partidários da ideologia de gênero nada mais são que os executores das vontades do grande capital que os manipula por trás das cortinas. Parafraseando o que Darcy Ribeiro disse a respeito do PT, é a esquerda que o sistema gosta.
Em realidade, essa esquerda liberal (vulgo New Left) da qual o PSOL no Brasil, o Frente Ampla no Uruguai, o Partido Socialista na França e o Partido Democrata nos Estados Unidos são representantes, entulho dos eventos de maio de 1968 na França (acontecimento esse que nada mais é que a mãe das revoluções coloridas que hoje castigam os países do antigo Espaço Soviético e do Mundo Islâmico), que têm como gurus intelectuais figuras como Michel Foucault, Simone de Beauvoir, Louis Althusser, Jean Paul Sartre, a escola de Frankfurt e tantos outros, nada mais é que a outra face da moeda da direita raivosa brasileira. Os dois lados são como o Yin e o Yang no taoísmo, as duas faces do deus Janus na mitologia romana e os personagens Piccolo e Kami-Sama em Dragon Ball: dois elementos opostos entre si, mas que se completam ao ponto de um não existir sem o outro e vice-versa. E como se dá essa relação dialética entre uma figura como o Marco Feliciano de um lado e o Jean Wyllys de outro (ou, utilizando outro exemplo ilustrativo, a Marcha por Jesus de um lado e de outro a Parada do orgulho GLBT)?
A New Left brasileira, ante a truculência da direita liberal neoconservadora brasileira, pode se gabar perante o povo de ser a “protetora das minorias diante da truculência dos fundamentalistas”, e a direita raivosa, ante as propostas de gente como o Jean Wyllys tais como liberação do aborto, do casamento entre pessoas do mesmo sexo, das drogas, o kit gay e outras tantas, pode se gabar perante o mesmo povo como sendo “a guardiã da moral e dos bons costumes ante a essa pouca vergonha que aí está”. E assim, além de justificar a existência do outro lado, um puxa votos para o outro e vice-versa. Esse conflito dicotômico entre os liberais de esquerda e os liberais de direita é o destino de todas as democracias liberais. A política, então, passa a ser um instrumento cujo principal objetivo é o de liberar o indivíduo de qualquer forma de pertencimento coletivo (que passa a ser visto como uma força de opressão)."