A Dama da Noite
Nascida da Terra
Primeira das Mulheres
Última das Deusas




Diz o Alfabeto de Ben Sirach que Lilith foi mais que uma criatura da noite da mitologia babilônica, que foi a primeira mulher de Adão, criada da terra, assim como ele, e que reivindicou ser sua igual, recusando-se à submissão sexual. Não sendo atendida, pronunciou a palavra proibida, fugiu do Éden, e se tornou consorte de demônios.

Só depois seria criada Eva, extraída da carne do próprio Adão.

Esta obra, datada por volta do ano 850 depois da Era Cristã, diz também que três anjos foram enviados para resgatar Lilith: Senoy, Sansenoy e Semangelof. Falharam. Esses três nomes jamais foram citados em nenhum outro texto da tradição judaica, quer seja Zohar, Talmud ou outras fontes de estudo da Cabala. Nem nos mesmos livros que, por sua vez, falam sobre Lilith, quem, por sua vez, recebeu como punição adicional não ser citada em livro algum da Bíblia canônica, quer seja o antigo Testamento Judaico, ou no Novo Testamento Católico, sendo condenada ao completo esquecimento.

Mas as mesmas tradições judaicas falam de Quatro Anjos da Prostituição, ou das Quatro Consortes de Samael. O Anjo Caído. Entre essas quatro entidades femininas está Lilith, uma das rainhas do Inferno, uma das quatro demônias mais poderosas do Qliphoth, a simbólica "Árvore da Morte" cabalística, a antítese da Sephirot.

Apesar de Lilith jamais ter sido um anjo.

Além dela, as demais são Naamaah, a mãe de todas as bruxas e demônios, Eisheth Zenunim, a devoradora dos condenados, e Agrat bat Mahalat, condutora da horda de 180 mil criaturas aladas.

Lilith, por ter saído do Éden antes da expulsão, não sofreu os efeitos da punição ao pecado original, permanecendo como a última das divindades: imortal, capaz de falar a língua divina, detentora de habilidades que os filhos de Adão e Eva jamais poderiam ter.

A palavra 'Qliphoth', literalmente traduzida, remete exatamente a essa mulher criada de uma terra impura, desprezada, indigna de ser citada, e que alimenta a raiz da Árvore da Morte. Pois segundo cabalistas, a serpente no Éden não era Lúcifer, cujo nome hebraico é Samael. Mas sim Lilith, sua consorte, que com seu feito introduziu a morte em toda a criação.

Se Adão e Eva foram o casal humano mortalizado pela expulsão do Éden, Samael e Lilith são o casal divino, ainda que amaldiçoado, demoníaco, ou demonizado, imortalizado no inconsciente da humanidade, proscrito da narrativa Bíblica, ele por ter seu verdadeiro nome, e natureza, ocultados, ela, ainda mais oculta, por ter a totalidade de sua existência omitida.

Mas as maiores forças do universo não são visíveis, os maiores poderes do mundo não se dão a conhecer. Protegida nas sombras, a maior força de Lilith está justamente em sua capacidade de agir sem ser notada, manipular sem ser manipulada, conduzindo o destino dos que a ignoram, vigiando a todos como a Lua Nova, que em plena luz do dia, percorre os céus, impercebida, mas percebendo com clareza toda a superfície da Terra.