29 de Fevereiro de 2024

Apesar da mitologia das súcubos, bem como a de Lilith, já serem bastante disseminadas nas mídias de entretenimento, ainda assim persistem mais como elementos secundários de ambientações fantásticas mais amplas, ou como personagens coadjuvantes. Mas há notória exceção, ainda que também pouco conhecida: a série de TV canadense cujo nada inspirado título é LOST GIRL (2010-2016), durando 5 temporadas que totalizaram 77 episódios de 45 minutos.

A personagem principal, 'Bo Dennis', interpretada por Anna Silk (o nome da atriz é muito mais interessante que o nome da personagem) é explicitamente uma "súcubo", ainda que de uma categoria bastante diferente das retratações mais disseminadas, sendo fisicamente uma mulher comum com algumas peculiaridades e poderes especiais.

Mais interessante é que, se as súcubos desta série nada tem a ver com as sucúbias de As 4 Damas do Apocalipse, curiosamente, elas são bastante parecidas justamente com o conceito de Absórvitas, visto serem basicamente mulheres com a habilidade de sugar a vitalidade humana, podendo facilmente levá-los à morte, e precisando se controlar para fazê?lo de modo seguro. E sua abordagem varia desde uma abordagem quase "oral" onde a vitalidade é sugada diretamente pela boca, tal como se viu em LIFEFORCE, quanto por meio de contatos sexuais. Além de possuíram poderes de persuasão, controle mental e vigor físico sobrenatural, também podendo recuperar-se de ferimentos graves em poucos minutos sugando a vitalidade alheia.

Importante notar, porém, que o autor de As 4 Damas do Apocalipse jamais teve conhecimento da existência desta série até menos de um ano atrás, quando toda a concepção das absórvitas já estava completamente consolidada.

É irresistível comparar Lost Girl a duas outras muito bem sucedidas séries de temática similar: Buffy, a Caça-Vampiros (Buffy, The Vampire Slayer 1997-2003) e sua spinoff Angel (1999-2004), sendo na realidade até mais assemelhada a esta última devido a sua característica mais “policial”.

No caso, temos em plena contemporaneidade um mundo oculto repleto de seres sobrenaturais que, em geral, passa desapercebido pela maioria das pessoas, mas que uma vez desvendado se releva extremamente vasto e complexo, o que torna a ambientação bastante inverossímil. Pois diferente do que ocorre em As 4 Damas do Apocalipse, onde o sobrenatural é radicalmente afastado no mundo normal por se dar no restrito Super Mundo de sociedades secretas raríssimas, ou nos confins isolados da Terra, nestas três séries, e em muitas outras, esse mundo oculto está embrenhado nas próprias grandes cidades, praticamente com uma criatura sobrenatural “a cada esquina”, e infindáveis ações dessas entidades cujos efeitos, embora não as causas, são direta e amplamente percebidos pela população comum.

Analisando apenas os 13 episódios da Primeira Temporada, Lost Girl, criada por Michelle Lovretta, fica bem aquém do “Buffyverso” criado por Jossh Whedon, o que chega a ser evidente até mesmo nos efeitos especiais, o que só é minimizado devido a ela ser uma década mais nova e contar com novos recursos. A própria direção e edição dos episódios possuem uma narrativa rápida e bastante simplificada apesar de terminar retratando um universo razoavelmente complexo.

Basicamente, a série concebe os Fae, uma nome genérico para se referir a seres sobrenaturais, baseada numa concepção folclórica europeia mais antiga, que viria posteriormente a evoluir para faerie / fairy (“fadas”). Estes Fae incluem as súcubos, vampiros, lobisomens, gigantes de gelo nórdicos, tritãos, fúrias, duendes, e mais um sem número de criaturas distintas das mais variadas tradições, a maioria em forma humana e versões bem inusitadas. Se dividem entre os Fae das Trevas e os Fae da Luz, embora esse alinhamento não seja tão maniqueísta quanto o nome sugere. E grande parte da trama decorre justamente da recusa da personagem principal em se juntar a uma das duas facções, permanecendo como uma Fae independente.

O autor de As 4 Damas do Apocalipse confessa que se esforçou para terminar ao menos essa primeira temporada antes de escrever sobre a série, visto ser praticamente uma obrigação uma vez que envolve tema tão afinado. Mas ao final, apesar dos percalços que envolvem elementos bastante implausíveis além de uma certa fragilidade na mistura dos elementos dramáticos com os elementos cômicos, a séria acaba conquistando, como é comum, pelo carisma dos personagens, para o qual os atores cumprem papel crucial.

Ajuda bastante a beleza das atrizes, pois além de Anna Silk no papel da súcubo principal, sua companheira, Kenzie, é interpretada pela atriz de origem eslava Ksenia Solo, e apesar de sua personagen ser uma humana comum, os olhos da atriz são de um azul quase “sobrenatural” que custa crer que sejam, e de fato são, naturais! Kenzie é a principal responsável tanto pelo “alívio cômico”, frequentemente exagerado, quanto executa regularmente o papel de donzela em perigo, embora não raro, em rasgos de perspicácia, seja ela quem resolva algumas das tramas episódicas. Mas além de frequentemente a personagem ter comportamentos demasiado irresponsáveis num mundo tão perigoso, talvez fosse visualmente mais interessante se ela, que frequentemente muda a cor do cabelo, passasse mais tempo loira, a fim de causar um contraste com a perpetuamente morena Bo.

Outra personagem regular, Laurie, interpretada pela loira Zoe Palmer, também chama atenção como uma humana médica dos Fae, que tem um interesse em Bo que começa científico, mas se torna romântico. E a maioria dos episódios traz novas beldades ocasionais que não raro se envolvem em cenas um tanto sensuais com não raro lesbianismo.

Mas Bo, sendo bissexual, tem como interesse romântico maior outro dos personagens fixos, o policial lobisomem Dyson, interpretado por Kris Holden-Ried, também um personagem cativante, e do elenco masculino destaca-se também Trick, interpretado pelo ator Rick Howland, que mede apenas 1,37m de estatura, embora não sofra das formas mais comuns de nanismo. Evidentemente, seu papel é de uma criatura mística bastante intrigante, poderosa, mas simpática, sendo o principal aliado dos protagonistas. Por fim, dos seis personagens fixos da série, como se pode ver na imagem, o tritão Hale, interpretado por K.C.Hollins, completa o time como o policial parceiro de Dyson, mas traz um ponto baixo que é o fato de quase não utilizar seu formidável poder e nem sequer explorar sua natureza sobrenatural.

Destaque também para a voz inacreditavelmente máscula, misteriosa e fascinante do ator Clé Bennett, que interpreta Ash, o temido líder dos Fae da Luz. Embora apareça numa minoria de episódios, o simples timbre de sua voz é capaz de criar um imediato clima sobrenatural! Não é, porém, uma voz totalmente natural, pois embora ele possua sim uma voz grave e bem empostada, ele a modula de forma mais exótica para o personagem.

O ótimo elenco, então, é o ponto alto da série, além do mistério da origem da protagonista, que se arrasta ao longo de toda a primeira temporada tendo uma resolução bastante interessante. Infelizmente, a temporada não tem um fechamento, pois apesar do clímax, a trama passa para a segunda temporada como se esta fosse apenas mais um episódio, dificultando uma análise mais fechada.

Por fim, é interessante fazer uma comparação da concepção das súcubos de Lost Girl com as absórvitas de As 4 Damas do Apocalipse, visto que praticamente em nada se assemelham às sucúbias desta além daquilo que já se assemelham às absórvitas. Lembrando que aqui, embora exista uma distinção entre ‘súcubo’ e ‘sucúbia’ em As 4 Damas, usarei ‘súcubos’ para me referir somente às personagens “humanas” de Lost Girl, e ‘sucúbias’ para as demônias de As 4 Damas, bem como ‘absórvitas’ para as humanas desta mesma saga que possuem alguns poderes das sucúbias.

Como já dito, o único ponto em comum com a mitologia das súcubos é que as entidades de Lost Girl (tanto Bo quanto outra súcubo que aparece mais ao final da temporada) também sugam vitalidade, mas até o modo como isso ocorre varia.

- As absórvitas são capazes de sugar vitalidade de muitas formas distintas, desde um simples toque, ou um intenso contato corpóreo, mas a depender do nível de desenvolvimento, mesmo a distância. De início, apenas uns poucos metros, mas à medida que seu poder evolui, podendo alcançar dezenas de metros, e com pessoas em especial, seus consortes e irmãs de rede, podem compartilhar vitalidade mesmo a milhares de quilômetros, embora de forma mútua e interdependente. Ao menos na primeira temporada, nada sugere que as personagens de Lost Girl tenham capacidade semelhante, embora sua capacidade de expanda nas temporadas posteriores;

- As súcubos de Lost Girl, precisam de abordagem muito mais próxima e direta para sugar vitalidade, preferencialmente pela boca, mas possuem uma inegável vantagem, que é poderem usar seus poderes de dia, o que é impossível para as absórvitas, que só podem fazê-lo muito longe da interferência do Sol. Vale lembrar, que as sucúbias da obra também são absórvitas, mas devido a sua anatomia demônica raramente usam essa habilidade, podendo contar com seus vastos recursos fisiológicos;

- Em Lost Girl as súcubos possuem poderes de sedução bem mais invasivos, podendo, num simples toque, praticamente controlar uma pessoa, homem ou mulher. As absórvitas não possuem qualquer recurso similar (a Linguagem Primordial não é habilidade absórvita). As sucúbias, por outro lado, tem vários recursos físicos, como feromônios e drogas inoculáveis capazes não só de seduzir mas praticamente controlar exclusivamente homens, mas as absórvitas contam apenas com sua beleza e sensualidade para tal;

- De dia, as absórvitas são mulheres comuns, ainda que com capacidades físicas e mentais otimizadas, à noite, sua capacidade física se exponencia ainda mais, e mesmo não tendo exatamente super força, sua capacidade de recuperação é sobrehumana, podendo resistir e se recuperar rapidamente de ferimentos que incapacitariam qualquer pessoa normal. As súcubos de Lost Girl não diferenciam o dia da noite, e contam com força e resistência sobre humana constante;

- Lost Girl utiliza explicitamente o conceito oriental de “Chi” para se referir àquilo que em As 4 Damas é chamado de Vitalidade, mas nesta última suas aplicações são muito mais amplas que a mera manutenção da vida, podendo ser convertida, pelas absórvitas mais poderosas, em eletricidade, as permitindo até mesmo disparar raios, e nos casos mais extremos, criar um campo elétrico defensivo em torno do corpo e viabilizar inclusive levitação;

- Por fim, embora em Lost Girl exista também a contrapartida dos Íncubos, ambos não parecem demonstrar grande preferência entre homens e mulheres no que se refere absorver o Chi, enquanto as súcubos e os íncubos em As 4 Damas são exclusivamente focados no sexo oposto humano, ao passo que as absórvitas, embora também possam sugar vitalidade de ambos os sexos, também manifestam uma facilidade maior para sugar energia de homens que de mulheres. Finalmente, é bom lembrar que existem também absórvitas homens, mas em proporção em geral inferior a 10%.

Apesar de uma certa precariedade, Lost Girl é uma raridade que merece ser observada, não só por tocar num tema tão pouco explorado. (Dentre as infindáveis criaturas que se vê no Buffyverso, não há súcubos.) Também por refletir uma manifestação clara do arquétipo Lilith, retratando uma personagem sexualmente ativa e expansiva, mas, como diz explicitamente a autora “...sem cair em estereótipos básicos ou exploração misógina (ou misândrica)...” e que não define, por si, sua personalidade. Bo tem relações hétero, homo, e sobretudo relações humanas não sexuais, de modo a, mais uma vez nas palavras da autora “...desbancar o pânico clichê gay de que pessoas bissexuais sexualizam a todos e são incapazes de uma amizade platônica.”

Evidentemente, o fato da protagonista ser uma súcubo é o que de fato viabiliza essa abordagem, em contraste com o que vemos no Buffyverse ou outras séries que, apesar de terem sido muito criticadas por conservadores, são frequentemente, são marcadas por um surpreendente moralismo subjacente.

Como também afirma o autor de As 4 Damas do Apocalipse, apelar a essa visão sobrenatural e mítica da sexualidade é uma ótima forma de abordar um tema tão sensível de modo diferenciado, sem incorrer em alguma forma de repressão sexual, nem numa sexualidade descontrolada.

3 de Julho de 2023

Talvez a maior força de um mito é quando este se confunde com a realidade ao ponto de ser indissociável de fatos históricos incontestáveis, e este é o caso da súcubo Meridiana, uma personagem que pode até mesmo possuir uma correspondência histórica concreta apesar de envolta na mais plena sobrenaturalidade.

O Papa Silvestre II (Gerbertus de Aurillac), cujo breve papado de 4 anos fez a transição entre o 1° e o 2° milênios, é uma personalidade histórica factual, que entre outras coisas se destaca por sua sabedoria e erudição, sendo pesquisador de diversos temas, inclusive profanos, mas como bem o disse o próprio Papa João Paulo II em 1999, buscava sempre a verdade, colocando a inteligência em prol da causa divina.

Foi Silvestre II que, inclusive, introduziu os algarismos Indo-arábicos na Europa, abrindo caminho para o desenvolvimento da matemática ocidental, sendo este apenas um dos tópicos pelo qual ele se interessava vindo do mundo árabe islâmico, na época, cientificamente bem mais desenvolvido que a Europa Cristã.

Mas grassa a lenda que um dos motivos, talvez o principal, da intelectualidade brilhante de Silvestre II se devesse a atuação de uma figura oculta feminina, a demônia Meridiana, que teria sido desde a juventude sua amante, confidente e mestra secreta, lhe ensinando ciências ocultas e agindo nas sombras para seu sucesso eclesiástico.

Tais alegações teriam partido inicialmente dos seus opositores, que denunciavam que a igreja estaria sob efeito de influência maléfica e bruxaria, e seriam registradas na obra De Nugis Curialum (Século XII), do clérigo inglês Gualterius Mappus (1130–1210).

Independente do quanto possamos confiar não só na veracidade dos fatos, mas sobretudo na sinceridade dos relatos, existe a inexorável realidade dos mitos e lendas, e Meridiana se tornou uma lenda infalivelmente associada ao mito das súcubos, incluindo e perpétua indefinição de ser uma entidade física ou espiritual.

Talvez mais devesse chamar atenção o seu nome, que literalmente significa "do meio-dia", algo estranho de ser associado a uma entidade demoníaca e sobretudo a uma lilitu, que se trata de criatura essencialmente noturna. No entanto, o termo também pode ser interpretado como um delimitador entre dois "mundos", como de fato o faz o "Meridiano de Greenwich", e dessa forma seria poético supor que Meridiana faria a intermediação entre os "hemisférios" cristão e muçulmano, o que explicaria a disposição de Silvestre II para conciliar o conhecimento das duas grandes religiões.

Ainda mais exótico que Meridiana seja não somente uma amante, mas uma companhia que foi fiel por uma vida inteira, entrando na vida do então Gelbertus para poupá-lo do sofrimento de uma desilusão amorosa na juventude, e que indiretamente, por meio de seu amado, combateu a ignorância e a degeneração da Igreja. Sob o papado de Silvestre II, a venda de indulgências jamais teria sido possível.

Tal lenda, diferente de muitas outras relacionadas, chega a ser compatível com concepção de As 4 Damas do Apocalipse, pois apesar de, no geral, a maioria das "sucúbias" apresentadas na obra se comporte de modo muito diferente, há uma diversidade que inclui demônias extremamente inteligentes e sensíveis, capazes de agir de maneiras sofisticadas e benevolentes, embora em geral sejam raras em comparação com suas contrapartes mais agressivas e irascíveis.


A ilustração é da artista Diane Özdamar, e embora eu não tenha encontrado relação autoral direta com a lenda de Meridiana, ela tem sido recorrentemente associada, como se pode ver neste
interessante fandom que discorre sobre "súcubos ascendidas".

Referências:

Sobre o Papa Silvestre II
- Carta do Papa João Paulo II ao Bispo da Diocese de Saint-Flour, no Milenário da Elevação do Monge Gerberto com o nome de Silvestre II ao Sólio Pontifício
- en.wikipedia.org/wiki/Pope_Sylvester_II

Sobre Meridiana
- The Story of The Succubus Meridiana and Pope Sylvester
- ‘Pope Sylvester II and Meridiana’ by Joseph S. Salemi (and an Essay on Dramatic Monologues)

24 de Maio de 2022

No ano da passagem do Cometa de Halley, foi lançado nos cinemas um filme de Ficção Científica e Terror que infelizmente não recebeu a atenção que merecia. Life Force (1986), no Brasil conhecido como Força Sinistra, trouxe uma interpretação da obra do escritor britânico Collin Wilson (1931-2013) originalmente intitulada Vampiros do Espaço (The Space Vampires) de 1976.

A relevância destas obras para o autor de As 4 Damas do Apocalipse é extrema, visto que o conceito de Força Vital largamente utilizado na tetralogia, e em outros livros do autor, é abertamente inspirado na obra de Collin Wilson, a ponto de citá-lo diretamente na estória. Trata-se da ideia, realmente defendida por pensadores antigos e por místicos atuais, de que haveria um tipo de energia sutil permeando todos os seres vivos, que poderia ser diretamente transferida de uns para outros, por vezes de modo suave, espontâneo, até involuntário, mas também podendo sê-lo de modo intencional e violento, e mesmo letal.

O conceito de “vampiros de energia” não só precede a obra de Wilson como na realidade precede os mitos dos vampiros hematófagos, sendo que, na realidade, o sangue termina sendo a mais evidente alegoria deste “fluido vital”. Em paralelo a isso, As 4 Damas do Apocalipse trabalha com a noção de entidades nomeadas Lamianoctis Absorvitas, respectivamente “criaturas da noite” e “absorvedoras de vida”, como uma categoria análoga à dos Lamianoctis Hematophagus.

Os primeiros absorvem diretamente essa energia sutil, podendo tanto sugá-la quanto doa-la, tendo tanto habilidades de cura e restauração quanto habilidades letais capazes de matar vítimas rapidamente e à distância, sugando remotamente sua vitalidade, dependendo da circunstância, força e habilidade da absórvita. Os segundos sugam sangue diretamente do corpo de suas vítimas, não tendo a prerrogativa de fazer o oposto a feri-las, enfraquecê-las ou matá-las. Ambos evitam o Sol, sendo os segundos, os tradicionais vampiros, gravemente feridos pela luz solar, e os primeiros, as absórvitas, tendo seus poderes completamente neutralizados, só podendo usá-los à noite.

E sendo as súcubos tecnicamente chamadas de Lamianoctis Absorvitas Daemonicus, a perda de suas capacidades de manipulação de Força Vital é o principal motivo pelo qual evitam o dia.

Fisicamente, os hematófagos são muito superiores às absórvitas humanas (a maioria são mulheres) e aos humanos comuns, ainda que não sejam invulneráveis às armas convencionais, podendo sim, ser mortos de modo não muito distinto das pessoas normais, exigindo apenas uma intensidade maior nos ferimentos e/ou o foco especial no coração ou no cérebro. Por outro lado, absórvitas possuem uma série de outras habilidades, podendo até mesmo converter essa sutil eletricidade vital em eletromagnetismo pleno, ao ponto de produzir descargas elétricas.

Se Collin Wilson forneceu uma “teoria da força vital” que reúne elementos diversos desde os vitalismos antigos, medievais e modernos, em As 4 Damas do Apocalipse há uma ênfase maior em aspectos que também lembram a teoria dos orgônios de Wilhelm Reich, o ‘prana’ hindu, ou ‘ki’ chinês, e na ideia da Força Vital como uma espécie de bioeletricidade específica. Algo que, por sua vez, se assemelha à interpretação do filme Lifeforce, inclusive no aspecto visual.

Pois o filme alterou muitos elementos do livro de uma década antes, incluindo o modo de agir e os poderes dos vampiros de energia vital, além da radical mudança da ambientação geral, pois Wilson ambienta sua estória um século à frente de seu então presente em 1976, ao passo que o filme o atualiza para o então ano de 1986, que, curiosamente, é também o ano onde se inicia a narrativa principal de As 4 Damas do Apocalipse.

Obs: na imagem, cena do filme Lifeforce.

14 de Maio de 2022

A mais popular da 4 Concubinas de Samael, Lilith se tornou recorrente na literatura, séries de TV e videogames, aumentando ainda mais o leque de interpretações possíveis sobre sua aparência. Mas além dos visuais com cabelos loiros da atualidade, há muito já existia uma divergência a respeito dela possuir cabelos negros ou ruivos.

Muito provavelmente, tal divergência deriva justamente do fato dela ser confundida com a segunda mais conhecida Rainha do Inferno, Agrat bat Mahalat, esta sim, inequivocamente ruiva de acordo com fontes tradicionais.

Lilith, por outro lado, mais apropriadamente é vista com cabelos negros, justo pelo fato de representar a noite. Seu próprio nome é uma corruptela do termo 'laila', que é noite em hebraico, e justo por se contrapor ao símbolo "solarizado" de Eva, representada como loira, deveria ter em seus cabelos pretos a simbologia da escuridão, do oculto, do impercebido, da Lua Negra.

Agrat bat Mahalat, por outro lado, esta sim, só poderia ser ruiva, visto simbolizar o fogo de paixões desenfreadas. Agrat é descrita como fortemente emocional, adepta tanto de sonoras gargalhadas e alegria contagiante, quanto de fúria visceral, ao passo que Lilith é tradicionalmente descrita como soturna, melancólica, trágica, trevosa.

Ademais, remontando a mitos babilônicos, o mito de Lilith dificilmente teria se baseado num pano de fundo cultural em que sequer fossem conhecidas pessoas ruivas. O mito de Agrat bat Mahalat, por outro lado, é bem mais tardio, mais provável de ter sido influenciado por tradições culturais boreais, incluindo o notório preconceito contra pessoas ruivas. Preconceito este, por sinal, que pode ser responsável, além da confusão com Agrat, pela reinterpretação da cor dos cabelos de Lilith.

Por fim, há a questão de Lilith ser associada ao elemento terra, o que a muito incautos poderia sugerir a coloração avermelhada que justificaria a cor de seus cabelos. No entanto, o que é tradicionalmente bem estabelecido é que Adão veio do barro, mas Lilith não necessariamente da mesma matriz, podendo ter sido criada de um tipo diferente de terra considerada mais impura, até mesmo associada a dejetos, adubo, e outros elementos qualitativamente distintos dos utilizados para a criação do primeiro homem. Ou seja, a distinção entre um barro mais nobre, associado a artes cerâmicas, e uma terra mais degenerada, o que simbolicamente seria mais uma vez conectada a uma cor escura. Embora, deva-se frisar, essa é uma parte controversa do mito.

Ademais, é evidente que não se pode sempre atribuir o vermelho à terra. Há uma variedade de tons disponíveis nas mais antigas artes ceramistas. Em As 4 Damas do Apocalipse, mantém-se o que parece simbolicamente mais apropriado: os cabelos negros de Lilith, os cabelos vermelhos de Agrat, e os cabelos loiros de Eisheth Zenunim justo por esta estar associada a uma simulação de divindade solar, onde a coroa se confunde com cachos dourados não por uma questão racial, mas do simbolismo da riqueza e da realeza. Naamaah, por outro lado, representa raças mais diversas e mais antigas.

Na arte, de autor não conhecido, uma representação de Lilith conforme essa interpretação ruiva, trazendo inclusive a serpente responsável pela manipulação que derrubou Adão e Eva do Éden. Mas como se vê, visualmente, ele se parece mais com Agrat bat Mahalat na versão de As 4 Damas do Apocalipse.

15 de Abril de 2022

Aparentemente, toda trindade guarda um quarto elemento oculto, e em toda quaternidade, há um elemento que destoa dos demais. No conceito platônico dos 4 Elementos, por exemplo, três são constituídos de partículas de faces triangulares: Fogo (tetraedro), Ar (octaedro) e Água (Icosaedro). Por isso, eles seriam capazes de se converter um no outro, a exemplo da vaporização da água, da combustão converter gases em fogo, ou as chamas darem lugar à fumaça. Por outro lado, o elemento Terra seria constituído de partículas de fase quadrangular, no caso, cubos, e isso o manteria mais estável e não conversível aos demais.

Quando examinamos os 4 temperamentos da tradição grega, temos que o colérico, o sanguíneo e o melancólico representam evidentemente emoções, enquanto o fleumático, diferente dos demais, representa justo a "falta" de emoções.

Dos 4 Evangelhos canônicos, temos que Marcos, Lucas e Mateus são basicamente relatos tidos como históricos, ao passo que o de João é mais uma alegoria simbólica e profética. E a trindade Pai, Filho e Espírito Santo, na realidade esconde uma quarto elemento sem o qual toda a história entre a Gênese o Apocalipse não faria sentido, e esse quarto elemento, por mais blasfemo que possa soar, é justamente a primeira das criações, Samael, o anjo que outrora Lúcifer, ao cair se tornou Satan, dando origem a toda aventura mundana.

A Lua, por sua vez, apresenta 4 fases distintas, mas numa delas ela está invisível, ausente à noite, mas percorrendo os céus diurnos, impercebida, podendo, raramente, ocultar brevemente o próprio Sol.

Não poderia ser diferente com as 4 Esposas de Samael. Embora todas tenham suas especificidades, e suas semelhanças, três delas tem em comum o fato de não serem humanas, mas demônias, criaturas ancestrais anteriores à nossa espécie. Outra, por sua vez, originalmente é humana, na realidade, a Primeira das Mulheres, e a Última das Deusas, que devido ao trágico destino, apartou-se da humanidade.

Por isso, ante à inevitável pergunta que o primeiro livro deixa em aberto: onde está Lilith? A resposta passa pela compreensão de que apesar de ser a mais referida no senso comum, é justamente a que mais está oculta, tal qual a Lua Nova, contemplando a face iluminada da Terra enquanto escapa a qualquer olhar, só esperando o momento certo de obscurecer toda a luz solar e lançar o mundo nas trevas.

24 de Março de 2022

No Brasil o nome pode soar mal, mas a arte marcial portuguesa conhecida como "Jogo do Pau", ou Esgrima Lusitana, é uma das tradições mais interessantes, e desconhecidas, do ocidente. Já tendo ao menos dois séculos de existência e infelizmente totalmente ausente no Brasil.

Trata-se de modalidade de luta com bastões que pode à primeira vista lembrar o Kendô japonês, mas com movimentos muito mais amplos e frequente rotação de pulso, numa abordagem bastante distinta de outras artes marciais que utilizam armas similares. Em Portugal, e outras poucas regiões da Europa, há eventos esportivos e artísticos do Jogo do Pau, e seria muito interessante se a modalidade fosse trazida ao nosso país.

A obra 'O Cortiço', de Aluísio Azevedo, ao descrever a luta entre um praticante desta técnica e um capoeirista, parece ter nossa única referência literária a ela, ou parecia, visto que agora outra obra traz esse tema ao Brasil. As 4 Damas do Apocalipse apresenta um personagem luso-brasileiro chamado Romeu Vale, apelidado de "Valete de Paus" graças a sua exímia habilidade no manejo do, aqui, mais apropriadamente chamado, bastão.

Além de ser um expoente nessa técnica de combate, Romeu também apresenta a condição única de ser imune ao poder sedutor e de controle mental irresistível que as súcubos tem sobre os homens, independente de sua orientação sexual. E mesmo sendo um homem hétero e capaz de reconhecer e apreciar os poderes eróticos das demônias, de modo misterioso ele ainda é capaz de se controlar e, se preciso, enfrentá-las, tornando-se um trunfo valioso das forças de resistência contra a invasão do subterrâneo.

15 de Março de 2022

O primeiro episódio da segunda temporada da série The Witcher (2021), disponível na Netflix, traz uma adaptação do conto 'Um Grão de Veracidade' (Ziarno prawdy) do autor Andrzej Sapkowski, originalmente publicado em 1993.

Apesar de muito diferente do conto inspirador, conserva perfeitamente a essência, frequentemente descrita como uma versão mais sombria de A Bela e a Fera, apresentando tanto um homem amaldiçoado com uma forma monstruosa, uma casa repleta de elementos mágicos, e uma 'bela' que, no caso, é mais terrível que a 'fera'.

E é esta criatura que chama atenção. Destoando da maior parte das referência mais populares, é uma mistura de vampira, súcubo e banshee, porém, traduzida para o português como lamia, ou vampiresa, mas tanto em inglês como no original em polonês, referida como 'bruxa', o que no idioma original possui um sentido muito diferente de 'witch', significando algo como uma "vampira amável".

De nome Vereena, essa personagem tanto no conto, quanto na série, se apresenta como uma bela e sedutora jovem, porém capaz de se transformar num monstruoso morcego gigante sedento de sangue e carne, extremamente ágil e forte, e capaz de emitir gritos atordoantes que, diferente das características anteriores, não se verificam nos mitos sobre vampiros.

Ademais, não é vulnerável ao Sol, característica que, no universo de The Witcher, apenas alguns raros tipos de vampiros possuem. Por fim, sua sensualidade, esta sim frequente em tais concepções, algo mais acentuada, bem como a relação com sua "vítima" preferencial, a qual jamais mata, numa perpétua relação de dependência vital, terminam dando-lhe alguns elementos em comum com as criaturas que são tema central de As 4 Damas do Apocalipse, que também explora, ainda que de forma diferente, elementos associados as banshees e seus gritos aterradores.

Também interessante é a decisão da versão em inglês ter decidido utilizar o termo 'lamia', que normalmente é uma criatura de corpo humano feminino da cintura para cima, e serpente da cintura para baixo, o que não se aplica a Vereena, ainda que uma lamia possa assumir outras configurações.

Isso tudo denota uma singularidade nessa personagem, difícil de classificar dentro das categorias mais comuns de criaturas mitológicas, ou recorrentes em ambientações famosas de fantasia e terror. Aliás, difícil de classificar mesmo dentro do universo The Witcher, que na série da Netflix, até agora, sequer jamais citou uma súcubo.

Sem entrar em mais detalhes, é possível até mesmo ver esse episódio isoladamente, e embora a trama principal se entrecorte com planos narrativos distintos que só farão sentido para quem acompanha a série, o núcleo focado na casa enfeitiçada e em Nivellen, o homem transformado em fera, é perfeitamente compreensível inclusive pelo fato de que, na série de livros, ser justamente um dos primeiros contos, quando a maior parte das características do personagem principal e da ambientação ainda são ignoradas pelos novos leitores.

E apesar das notórias diferenças da versão audiovisual (no livro o enredo é focado em apenas dois personagens: Geralt de Rívia, o Witcher, e Nivellen, mas na série, a personagem Ciri é acrescentada) o que há de mais crucial, que se reflete justamente no clássico A Bela e a Fera, é integralmente mantido.

O que mais interessa aqui é o modo curioso como muitos dos elementos desenvolvidos em separado, e de modos distintos, em As 4 Damas do Apocalipse, são tratados de forma misturada em Um Grão de Veracidade, que, infelizmente, termina sendo um estória muito curta, não devendo perfazer muito mais que meia hora descontadas as sequência não relacionadas que se alternam à trama principal. Um tema que merecia um longa metragem, tanto para explorar os elementos supra realistas quanto para aprofundar a comovente dimensão romântica.

Obs: nas imagens, a personagem Vereena na versão da série, interpretada pela atriz Agnes Bjorn, e numa retratação da artista Maja Rogocka.

2 de Março de 2022

A Ucrânia é o país de nascimento de Agnes Svetlana Aletheia, uma das principais personagens de As 4 Damas do Apocalipse, em 1969, quando ainda integrava a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

Deixada às portas de um orfanato com poucos meses de vida, ainda na infância sentiu forte vocação religiosa, e na adolescência, pouco antes dos famosos eventos de Chernobyl, migrou para a Itália, país no qual passou a maior parte de sua vida, sempre em instituições da Igreja Católica Romana.

Uma devoção exemplar aliada a sua formidável competência física, tornou Aletheia a candidata perfeita a adentrar as Damas da Ordem de Mikhael, secretíssima milícia católica cuja criação precede a Grande Cisma entre as igrejas católicas Romana e Ortodoxa.

O principal objetivo da Damas da Ordem de Mikhael é combater súcubos, visto que os poderes sedutores sobrenaturais dessas demônias tornam os homens completamente inúteis para enfrentá-las.

No início do ano de 2001, Agnes chegou a ser a única dama da Ordem, após o falecimento de sua mestra. Porém, com a eclosão da epidemia de súcubos na América Latina, foi enviada ao Brasil para auxiliar o demonólogo Padre Saulo Picard a reconstruir a Ordem de Mikhael, praticamente inativa após o desaparecimento súbito dos demônios três séculos antes.

Em As 4 Damas do Apocalipse, a história como a conhecemos vai até a virada dos anos 2001/2002, quando então os eventos sobrenaturais antes secretos, rasgam o véu de ocultamento, e levam a ambientação para uma realidade alternativa, até que, em 2010, o mundo da obra se torna irreconhecível pelos olhos de nosso mundo real.

14 de Fevereiro de 2022

Em 1994, o game Darkstalkers, da Capcom, introduzia a personagem Morrigan Aensland. Seguramente, a primeira personagem 'súcubo' a atingir grande repercussão. Foi então que a maior parte do público, incluindo o autor de As 4 Damas do Apocalipse, tomou contato com essa entidade mitológica, embora o primeiro nome da personagem remeta ao folclore irlandês e tenha pouca relação com a mitologia mesopotâmica.

E apesar dos elementos mais caraterísticos das súcubos serem discretos ou omitidos, até mesmo pelo direcionamento de público abranger a faixa etária infanto-juvenil, em 1997 a Capcom introduziria outra personagem, que seria uma espécie de "irmã/filha" de Morrigan, com o nome Lilith.

Nessa época, o mito já era bem conhecido pelos entusiastas do assunto, por meio de obras como "Lilith - A Lua Negra", de Roberto Sicuteri, ou "O livro de Lilith: o Resgate do Lado Sombrio do Feminino Universal", de Barbara Black Koltuv, bem como já era tema corrente em grupos neopagãos que praticavam um nova forma de bruxaria ritual, conhecida como Wicca.

Nada disso, no entanto, se compara ao alcance que as personagens de videogame teriam, especialmente no imaginário juvenil, rapidamente se tornando tema comum entre os entusiastas de fantasia e sobrenatural em livros, quadrinhos e games, retratando, evidentemente, versões bem distantes das concepções mitológicas ou literárias mais tradicionais.

Mesmo assim, ainda hoje, 28 anos depois dessa popularização, a mitologia das súcubos continua pouco difundida no imaginário popular, contando, no máximo, com personagens secundárias em séries de TV que exploram o sobrenatural. O mesmo pode-se dizer de Lilith, pois embora o nome em si seja bastante comum, com personagens assim referidas em produções diversas, a maioria tem pouco ou nada a ver com a mitologia hebraica.

Sequer a série de livros fantásticos de Richelle Mead, cuja série sobre súcubos conta com oito volumes, a maioria publicados no Brasil, altera essa situação, visto se tratar de uma parte secundária dentro das obras da própria autora norte americana.

Numa seara onde o tema dos vampiros e zumbis são repetidos além da exaustão, e onde criaturas como lobisomens e bruxas também contam com larga representação, o mito das súcubos, em grande parte pelo seu inevitável apelo erótico, permanece ainda um tanto restrito.

Ilustrações do artista sul coreano Taekwom Kim (A-Rang).

22 de Janeiro de 2022

O livro LAIL-AH, de Hilton James Kutscka, subtitulado "O Divórcio de Deus", é uma curiosa ficção que brinca com algumas distantes referências mitológicas para entregar uma obra bastante distinta do que costuma se esperar do gênero.

A primeira referência que vem à mente é o mito de Lilith, no entanto, aqui, a ideia é de que Deus teria criado uma esposa para si próprio, e que posteriormente se rebelou, sofrendo destino análogo ao do mito hebraico. Em sua revanche, Lail-ah tem como objetivo destruir a criação de seu ex-marido: a humanidade.

Deus em pessoa, em carne e osso, participa ativamente da estória como um dos personagens principais, liderando a maior parte da ação numa estratégia para deter sua ex-esposa. Curiosamente, ele não parece possuir qualquer poder sobrenatural, habitando um corpo humano comum, porém, dotado de amplos conhecimentos que o permitem, entre outras coisas, ser rico e influente.

Por sua vez, Lail-ah não apresenta muitas habilidades além de uma beleza divinal e uma resistência ligeiramente superior à humana. O próprio Deus chega a dizer que seria muito difícil detê-la com um revólver, mas que ela não sobreviveria ao disparo de um lança-foguetes portátil. E a trama se desenrola mais num estilo de espionagem, envolvendo a CIA, operações secretas no Iraque e o momento histórico da Guerra do Golfo Pérsico em 1991.

Mas o mais interessante a ser destacado aqui é, sobretudo, o nome da personagem. 'Lail-ah' assemelha-se, naturalmente, à palavra 'laila', cuja significado em hebraico ( ??????? ) é 'noite'. E é desta palavra que deriva 'lilith', significando 'criatura noturna', ora num sentido claramente sobrenatural, ora podendo ser entendido como uma coruja, cujo pio sombrio caracteriza a personalidade lamuriosa desta entidade mitológica.

Em As 4 Damas do Apocalipse é sabido que a personagem Lilith é assim referenciada apenas no imaginário popular, e pelos leigos. Dentro dos círculos ocultistas mais fechados, todos sabem que o nome "público" da Primeira das Mulheres e Última das Deusas é, na realidade, 'Layl-lah', embora em geral, respeitosamente, a maioria prefira se referir, e se dirigir, a ela apenas como 'A Senhora', em inglês 'The Mistress'.

Seu verdadeiro nome é na realidade desconhecido por todos exceto as demais Concubinas de Samael, e sua simples pronúncia correta, embora quase impossível, causaria efeitos devastadores na mente da maioria dos mortais.

15 de Janeiro de 2022

Tem havido questionamentos sobre a natureza da "magia" em As 4 Damas do Apocalipse. No entanto, trata-se de uma obra que pretende ficar no limiar entre a Fantasia Mitológica e Teológica, e a Ficção Científica, apresentando uma abordagem que tanto pode ser um tipo de "Alta Fantasia", de uma forma mais plausível, ou Ficção Científica mais ousada, que a faz se assemelhar a magia.

Já no Capítulo 8 do Livro 1, há uma apresentação de uma cientista militar que aborda por um ponto de vista científico um tema que a maioria vê por uma ótica sobrenatural, mesmo que fique claro que alguns dos elementos ainda escapam a compreensão.

O ponto é que os eventos sobrenaturais, os super poderes dos personagens e outros elementos tido como fantásticos, pretendem estar devidamente embasados numa fundamentação que, mesmo se não explícita, tem rígidas regras, obedecendo a uma concepção bem definida que, se for examinada em maior detalhes pelos leitores mais curiosos, não apresente inconsistências.

Nesse sentido, é interessante apontar alguns pontos que seguem certas tendências literárias que estabelecem que mais importante do que a "magia pode fazer", é o que ela "não pode fazer", mantendo algum grau de previsibilidade que impede soluções de problemas muito complexos, literalmente, "num passe de mágica!"

Assim, satisfazendo algumas curiosidades, é bom esclarecer que em As 4 Damas do Apocalipse não existe:
1 - Teletransporte. Nem por meio de portais ou por desintegração e reintegração;
2 - Telecinésia, embora haja alguns fenômenos de ordem magnética que possam soar parecidos. É, aliás, uma opinião do autor que o conceito da também chamada psicocinésia é quase sempre aplicada de forma irracional;
3 - Viagem no Tempo, em nenhuma circunstância. E embora não seja de se esperar tal tema numa obra de teor mais associado ao sobrenatural, elementos do tipo tem sido explorados em filmes e livros de fantasia;
4 - Dimensões Paralelas ou mundos alternativos acessíveis por meios especiais;
5 - Ressurreição. O que efetivamente morrer, permanecerá morto. Mesmo que a concepção dê espaço para crenças teológicas correlatas, elas não se manifestam na estória.

5 de Janeiro de 2021

O filme SiREN (assim mesmo, somente com o 'i' minúsculo), de 2016 apresenta provavelmente a melhor retratação de uma súcubo nas mídias audiovisuais, em consonância com o curta Amateur Night, comentando em 17 de Dezembro de 2021.

E muito difícil discorrer mais sem estragar as surpresas que o longa revela, uma vez que parece, a princípio, algo completamente desvinculado de Amateur Night.

Em termos de enredo, premissa, efeitos especiais e atuação, o filme possui o mérito de ser perfeitamente eficiente em tudo, e embora nada isoladamente seja excepcional, o resultado final acaba sendo excelente. Infelizmente, terminou obscurecido por outros filmes homônimos e em especial por uma série de 2018, também de mesmo título e com três temporadas, que por sua vez se confunde com outra série de temática similar mas intitulada Tidelands, que por sua vez tem apenas uma temporada. Porém, todas essas tem como tema as sereias, e não as súcubos.

O que muitos ignoram é que na realidade as duas criaturas mitológicas tem mais em comum além do mero fato de serem entidades femininas que seduzem ou atraem homens e em geral os matam.

O termo 'siren' deriva do grego ??????, e desde a antiguidade, esse mito apresenta uma criatura associada a pássaros, quer possuindo asas ornitópteras ou mesmo se transformando em aves. Somente na Idade Média, consolidou-se a versão aquática metade mulher metade peixe, que domina o imaginário popular atual.

No entanto, a temática essencial de uma feminilidade fatal jamais se alterou, e nesse sentido termina tendo alguma equivalência ao mito hebraico das lilitus, que também posteriormente seriam entendidas como súcubos.

Ademais, como é auto evidente, a palavra 'sereia' também compartilha da mesma origem etimológica de 'sirene', sendo que em inglês ambas se traduzem como 'siren', compartilhando a característica de emitir um som.

No caso, a súcubo do ótimo filme SiREN tem essa habilidade de entoar uma canção hipnotizante capaz de sobrepujar qualquer vontade masculina. Embora sua concepção seja radicalmente diferente das súcubos de As 4 Damas do Apocalipse, há também convergências, uma vez que o dom da canção hipnotizante existe, embora seja rara, entre as súcubos das 4 Damas. Ademais, já no primeiro livro, são apresentadas as sereias, entendidas como "súcubos d'água", o que por sua vez remete até mesmo a alguns mitos folclóricos brasileiros.

Fica a recomendação desse interessante filme, sobre o qual ainda pretendo desenvolver alguma crítica mais detalhada, e acessível na Apple TV+ com o enganoso e apelativo título de "Sereias Predadoras", ou em algum outro serviço ou recurso mais adaptado ao conceito de "fruto proibido."

20 de Dezembro de 2021

O interessantíssimo artigo "George MacDonald and the Lilith Legend in the XIXth Century", de Roderick F. McGillis, de 1979, jamais foi traduzido para a língua portuguesa. Mas aqueles que fizerem o esforço de lê-lo terão uma das melhores retratações de época do mito disponíveis na internet. dc.swosu.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1763&context=mythlore

É breve, mas traz informações preciosas sobre essa mitologia profana e suas implicações simbólicas, ainda que a maioria bastante diferentes da concepção literária presente em As 4 Damas do Apocalipse disponível por R$ 4,00 em versão e-book www.amazon.com.br/As-Damas-Apocalipse-Agrat-Mahalat-ebook/dp/B093LGD8YF e R$ 33,00 +frete em versão física loja.uiclap.com/titulo/ua5230

17 de Dezembro de 2021

O filme V/H/S, de 2012, é uma antologia de curtas em estilo "mocumentário", isto é, a estética cinematográfica que simula uma filmagem precária para contar estórias ao estilo "amador". Após uma breve introdução, são apresentados 5 pequenas estórias das quais estou enfaticamente recomendando apenas a n° 1 e a n° 5. (Contra indico a segunda.)

Em especial, a primeira, intitulada "Amateur Night", tem uma das melhores retratações de súcubos já feitas, com uma abordagem bastante convincente do ponto de vista de um certo "realismo" que flerta com o fantástico, e com uma sutil simbologia que poucos serão capazes de perceber entre o frenesi da ação. Ainda que a súcubo retratada seja muitíssimo diferente da concepção de As 4 Damas do Apocalipse.

Ademais, essa estória não está totalmente isolada, sendo conectada a outro filme, que não é das versões posteriores de V/H/S, sobre o qual pretendo fazer um vídeo.

Esse curta metragem, de menos de 20 minutos, pode ser visto livremente na internet. Link nos comentários.

14 de Dezembro de 2021

11 de Dezembro de 2021

Entrevista sobre o livro com a escritora Jéssica S.S. Nascimento.

27 de Outubro de 2021

Ainda que muito diferente da retratação de As 4 Damas do Apocalipse, essa versão feminilizada dos Quatro Cavaleiros, por Iren Horrors*, merece ser contemplada.

15 de Outubro de 2021

LILITH REGINA TRAGAEDLE (Lilith Rainha da Tragédia), da artista irlandesa ALTHEA GYLES (1867-1949), obra acompanhada pelos dizeres: "Ó mais triste Lilith, em cujo coração foi executada a primeira grande tragédia da Terra, e ainda por tua causa, o Ódio segura a mão do Amor."

23 de Setembro de 2021

8 de Setembro de 2021

CONVITE PARA LEITURA COLETIVA, dia 10 de Setembro, o e-book estará de graça em www.amazon.com.br/As-Damas-Apocalipse-Agrat-Mahalat-ebook/dp/B093LGD8YF

13 de Agosto de 2021
13 de Agosto de 2021
12 de Agosto de 2021
12 de Agosto de 2021
3 de Agosto de 2021

Já está em finalização a primeira revisão do Livro II de As 4 Damas do Apocalipse, com previsão de lançamento ainda para este ano. Enquanto isso, o Livro I segue por R$ 4,00, e-book, na Amazon www.amazon.com.br/As-Damas-Apocalipse-Agrat-Mahalat-ebook/dp/B093LGD8YF e a versão impressa por R$ 33 (mais frete) em loja.uiclap.com/titulo/ua5230

21 de Junho de 2021

E-book R$ 4,00 (DE GRAÇA no Kindle Unlimited.) www.amazon.com.br/As-Damas-Apocalipse-Agrat-Mahalat-ebook/dp/B093LGD8YF

Livro Físico R$ 33,00 (mais frete de R$ 7,00 a 40,00 dependendo de modalidade e região.) loja.uiclap.com/titulo/ua5230

10 de Junho de 2021

Diz o rabino Ben Sirach que Lilith foi mais que uma criatura da noite da mitologia babilônica, que foi a primeira mulher de Adão, também criada da terra, que reivindicou ser sua igual, recusando-se à submissão sexual. Não atendida, pronunciou a palavra proibida, fugiu do Éden, e se tornou consorte de demônios.

Só depois seria criada Eva, extraída da carne do próprio Adão. Sirach, cuja ironia parece flexibilizar temas tabus, diz também que três anjos foram enviados para resgatar Lilith: Senoy, Sansenoy e Semangelof. Falharam. Nomes jamais citados em qualquer outro texto da tradição judaica, quer seja Zohar, Talmud ou outras fontes de estudo da Cabala. Nem nos mesmos livros que, por sua vez, falam sobre Lilith, quem, por sua vez, recebeu como punição adicional não ser citada em livro algum da Bíblia canônica, quer seja o antigo Testamento Judaico ou no Novo Testamento Cristão, sendo condenada ao esquecimento popular.

Mas outros textos polêmicos falam de 4 Anjos da Prostituição, ou das 4 Consortes de Samael. O Anjo Caído. Entre essas quatro entidades femininas está Lilith, uma das rainhas do Inferno, uma das quatro demônias mais poderosas do Qliphoth, a simbólica "Árvore da Morte" cabalística, antítese da Sephirot.

Apesar de Lilith jamais ter sido um anjo, por ter saído do Éden antes da expulsão, não sofreu os efeitos da punição ao pecado original, permanecendo como a última das divindades: imortal, capaz de falar a língua divina, detentora de habilidades que os filhos de Adão e Eva jamais teriam.

A palavra 'Qliphoth', literalmente traduzida, remete exatamente a essa mulher criada de uma terra impura, desprezada, indigna de ser citada, e que alimenta a raiz da Árvore da Morte. Segundo cabalistas, a serpente no Éden não era Lúcifer, cujo nome hebraico é Samael, e sim Lilith, sua consorte, que com seu feito introduziu a morte em toda a criação.

Se Adão e Eva foram o casal humano mortalizado pela expulsão do Éden, Samael e Lilith são o casal divino, ainda que amaldiçoado, demoníaco, ou demonizado, imortalizado no inconsciente da humanidade, proscrito da narrativa Bíblica, ele por ter seu verdadeiro nome, e natureza, ocultados, ela, ainda mais oculta, por ter a totalidade de sua existência omitida.

Mas as maiores forças do universo não são visíveis, os maiores poderes do mundo não se dão a conhecer. Protegida nas sombras, a maior força de Lilith está justamente em sua capacidade de agir sem ser notada, manipular sem ser manipulada, conduzindo o destino dos que a ignoram, vigiando a todos como a Lua Nova, que em plena luz do dia, percorre os céus, impercebida, mas percebendo com clareza toda a superfície da Terra.

9 de Junho de 2021

Naamaah, que também pode ser grafada Naamah, Na'amah, Namaah ou mesmo Manaah, forma, ao lado de Eisheth Zenunim, o par misterioso das Rainhas do Inferno. Diferente de Lilith e Agrat bat Mahalat, das quais há muita informação, embora muitas controvérsias e contradições.

Confundida com uma personagem da Gênese que levava seu nome, e considerada, ao lado de Lilith, uma das que visitavam Adão para corrompê-lo, tem sua melhor fonte de referências no Zohar - O Livro da Luz, que por meio de gematria, cabala, numerologia e outras técnicas do misticismo hebraico, desvenda segredos da Bíblia Judaica.

Naamaah é descrita como "a primeira a enganar e confundir os anjos", e apresentada como "A Mãe dos Demônios." Outras referências pagãs a intitulam "A Mãe de Todas as Bruxas", relacionando-a com outros mitos tais como Baba-Yaga ou Hécate.

Todavia, mais relevante que a referência a bruxas e demônios. Provavelmente o conceito de 'mãe' seja o caso mais emblemático de similaridade inter linguística conhecido, pois na quase totalidade dos idiomas humanos, apesar de sua vasta diferenciação, coincide a presença do fonemas 'm', ocasionalmente 'n', em geral associados às vogais 'a' ou 'e'. Com raras exceções, temos 'ma' como um som quase universal significando mãe, visto ser uma das primeiras coisas que os bebês conseguem pronunciar.

Não só isso, porém, pode ser derivado das pouquíssimas informações que as tradições herméticas e cabalísticas oferecem. Se, com Lilith, Naamaah se relacionava com Adão, e sendo, pelo mito, Lilith tão antiga quanto o próprio Adão, e não havendo qualquer referência a respeito de quando Naamaah teria sido gerada, então não é descabido pressupor que seja tão ou mais antiga que Lilith, visto ser um demônio, e portanto remontar ao mito da queda dos anjos, antes da criação do mundo.

Howard Schwartz, escreve em sua obra A Árvore das Almas: "Outros dizem que quando os dois anjos, Shemhazai e Azazel, desceram à terra, ainda eram inocentes. Mas foram corrompidos pelas demônias Naamaah e Lilith."

Sua obra atesta que é Naamaah que estabelece o padrão comportamental básico das súcubos, nas palavras do Rabino Simeão: "...é aquela que vaga pelo mundo à noite, roubando a virilidade dos homens, e onde quer que sejam encontrados dormindo sós em uma casa, ela adquire poder sobre eles, especialmente em tempos de fraqueza e doença, enquanto a lua mingua."

Em meio a informações conflitantes, talvez o mais certo derive de outras citações de seu nome, incluindo versões cristãs da Gênese, que não tratam desta demônia primordial, mas de mulheres comuns batizadas com seu nome. E este nome, isto é inequívoco, significa 'agradável', 'gentil', 'carinhosa' ou similares. Características, além da beleza, sempre destacadas nas humanas assim batizadas.

E nesse sentido primordial, a que mais tais termos podem se referir além da mais arquetípica feminilidade? O que mais seria a mais arquetípica feminilidade que a maternidade?

8 de Junho de 2021

Eisheth Zenunim, também chamada Isheth Zenanim, é a mais misteriosa das quatro Rainhas do Inferno, pois dentre Agrat bat Mahalat, Naamaah e Lilith, possui menor número de referências nas tradições da Cabala, e nenhuma descrição, embora, curiosamente, seja a que possui o nome com a pronúncia mais bem definida.

O Zohar, o cabalístico Livro do Esplendor, escrito há 1.800 anos, muito pouco revela sobre ela, mas a tradição mitológica judaica a descreve como a "devoradora dos condenados", consumindo-lhes as almas. Vale lembrar que tal como na maioria das tradições ancestrais, na 'kabalah' existe ambiguidade no conceito de 'alma', ou 'espírito', hora o termo hebraico 'ruach' assumindo o sentido psíquico, onde estaria a consciência, hora o sentido de 'vitalidade', a força que anima os corpos. Em verdade, em geral ambos são vistos como dois aspectos de uma mesma substância.

Eisheth está associada ao Sathariel, o aspecto do Qliphoth, a Árvore da Morte, que se opõe ao Binah, o conceito feminino do entendimento, clareza, intuição, na Sephirot, a Árvore da Vida. O Sathariel é a "ocultação do divino", o oposto da geração da vida.

Também está associado ao "olho esquerdo" da cabeça divina, bem como o lado esquerdo do coração, ou do cérebro, e portanto, a dimensão mais racional, sendo justo a racionalização o que mais oculta o divino. Aparentemente, a mais intelectual das consortes de Samael. Por outro lado, diz-se que seu nome se traduz por "mulher da casa de prostituição", num sentido bem mais profundo, porém, do que o usual, associando-se a uma forma de anti vida, da sensualidade não usada para procriar, mas para disseminar luxúria, doenças, morte.

Com tamanha confusão é difícil saber a real natureza demoníaca de Eisheth Zenunim. Mas ao menos uma coisa fica clara. Todos os sentidos e interpretações levam a um tipo de consumo de vitalidade.

Eisheth Zenunim é a devoradora da vida.

7 de Junho de 2021

No livro da Gênese, o nome Mahalat, Mahlat ou Mahlath, por vezes Maalet, Maalate, ou similares, é apenas o de uma mulher comum, se é que se pode dizer isso dos primeiros humanos cuja origem é até mesmo suspeita de descender de anjos. Agrat, ou variações como Igrat ou mesmo Igrite, também é um nome próprio. Agrat bat Mahalat significa, literalmente, "Agrat filha de Mahalat".

Já nas tradições rabínicas, muito mais herméticas, há informações diferentes. Mahalat pode significar dançarina, e Agrat bat Mahalat o demônio que dança nos telhados, mas também a rainha dos demônios, cuja carruagem lidera 18 miríades (dezenas de milhares) de mensageiros ("anjos") da destruição. Ou seja, um exército de 180 mil criaturas aladas. Também é considerada a mestra, ou amante, da feitiçaria, que comunica segredos proibidos aos praticantes da arte oculta.

O Qliphoth, a "Árvore da Morte" na tradição cabalística, a depender da interpretação, concebe Agrat bat Mahalat e as demais "anjos da prostituição" Eisheth Zenunim, Naamaah e Lilith, como forças vitais invertidas, que associadas a Samael, o "Veneno de Deus", geram toda uma hierarquia de entidades maléficas.

Mas apesar de quase uma dezena de fontes tradicionais hebraicas, assírias ou babilônicas se referir a alguma das Consortes de Samael, ainda assim as informações existentes são muito escassas, sujeitas a inúmeras interpretações e mesmo frequentemente contraditórias. A perpétua dúvida sobre a natureza espiritual ou física, ou ambas, das cosmovisões mesopotâmicas, anteriores até mesmo à questão a respeito do universo ser monista ou dualista, praticamente impede qualquer conclusão segura sobre que possíveis realidades estão ocultas sobre os véus do desconhecimento.

Uma coisa, porém, é certa. Tratam-se de forças muito superiores ao mero poder humano. E mesmo sendo forças femininas, originalmente geradoras da vida, quando invertidas, terminam servindo à morte, pois nada é mais mortífero que a reprodução desenfreada da vida. Submetidas a alguma ordem hierárquica, mesmo que demoníaca, tais forças podem ser contidas, mas à solta, com poderes além da capacidade humana, as Quatro Anjos do Prazer se tornam as Quatro Demônias da Destruição, arautos da morte, Cavaleiras, ou Damas, do Apocalipse. Conquista, Guerra, Fome e Morte.

Agrat bat Mahalat é a senhora dos exércitos.

4 de Junho de 2021

Os 4 Cavaleiros do Apocalipse talvez sejam os ícones temíveis mais famosos da Bíblia, descritos principalmente no Capítulo 6 do Livro das Revelações.

Mas apesar de estarem consagrados no imaginário popular como Peste, Guerra, Fome e Morte, diferente do que muitos pensam, somente o segundo e quarto cavaleiros são assim evidentes. Guerra por ter recebido uma espada, ter um cavalo da cor do sangue, e ser dito que tem o poder de tirar a paz entre os homens (Ap 6:4). E Morte por ser assim literalmente nomeado (Ap 6:8).

O terceiro cavaleiro, do cavalo preto, é normalmente identificado com a Fome, mas isto não é tão preciso quanto nos casos anteriores. Trazendo uma balança na mão, o cavaleiro faz uma declaração basicamente "comercial", estabelecendo preços abusivos para trigo e cevada, mas dizendo para não "danificar" o azeite e o vinho (Ap 6:6).

Há muitas interpretações possíveis para essa passagem, que vão desde o abuso econômico contra os mais pobres, consumidores de trigo e cevada, enquanto os luxos dos ricos, azeite e vinho, são intocados, até alegorias sobre o julgamento das almas onde azeite e vinho são vistos como unção e sangue de cristo. A interpretação como Fome é compreensível, até porque no versículo 8 a palavra é literalmente usada sugerindo que o cavaleiro possa ser assim nomeado.

Mas isso nem de longe é tão claro quanto nos casos da Guerra e da Morte. O terceiro cavaleiro pode ser entendido como exploração, crise econômica, e há até quem, hoje, o identifique com o capitalismo, ao passo que outros interpretam o segundo cavaleiro como comunismo, em virtude do cavalo vermelho. E por vezes, até fazendo analogia do azeite, que também era usado como combustível no passado, com o petróleo.

Ainda mais incerta é a natureza do primeiro cavaleiro, do cavalo branco. Portando um arco e ostentando uma coroa, ele costumava ser chamado de Conquista. Tanto o filme Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse de 1921 quanto o de 1962 assim o nomeiam. Somente no versículo 8, algumas traduções da bíblia acrescentam o termo 'peste' antes de "feras da terra", por meio de interpretações teológicas controversas. Na realidade, até antes do século XVIII, o primeiro cavaleiro, saído do primeiro dos sete selos aberto pelo cordeiro, era predominantemente interpretado como o próprio Cristo! Considerando que saiu "vitorioso e para vencer", além da simbologia do cavalo branco e da coroa.

Na verdade o termo 'peste', 'pestilência' ou 'praga', sequer aparece em traduções de alta reputação como a King James, visto que o termo grego que costuma ser assim traduzido é 'thanato', que literalmente é 'morte'.

Na visão atual dos 4 Cavaleiros, que se consolidou apenas no último século principalmente na cultura popular, é difícil saber porque exatamente a 'peste' foi sacramentada como a interpretação "definitiva" do primeiro selo. Neil Gaiman e Terry Pratchett não foram totalmente inconsequentes quando consideraram, em seu livro Good Omens, de 2004 (no Brasil lançado como "Belas Maldições" embora literalmente seria "Bons Pressários"), que o primeiro cavaleiro era na verdade 'poluição', visto haver real indefinição no texto bíblico.

E em As 4 Damas do Apocalipse, é sugerido que na verdade a 'peste' se confunde não só com as 'feras', visto que doenças são causadas por microorganismos (pequeninas feras), mas até mesmo com a 'fome', visto que um dos principais motivos de fome no mundo são pestes que destroem plantações e rebanhos, e que a fome torna o corpo mais vulnerável à toda sorte de infecções, bem como doenças também prejudicam a alimentação.

Até mesmo nossa crise sanitária global atual permite essa correlação da peste com a fome.

Por fim, As 4 Damas do Apocalipse associa os 4 Cavaleiros com as bem menos conhecidas figuras mitológicas das 4 Concubinas de Samael, nome hebraico do Anjo Caído.

1 de Junho de 2021

Desde antes da história a humanidade combateu os demônios do submundo, numa guerra milenar que foi sendo vencida à medida que a existência dos inimigos foi ocultada, que o conhecimento a seu respeito foi sendo confundido e esquecido, impedindo os povos que vivem sob o Sol de invocá-los e adorá-los.

Quando sua derrota parecia consumada, as hostes do Hades subverteram a guerra, enviando não mais soldados demoníacos e ferozes para combater os guerreiros humanos, mas sensuais demônias para seduzi?los e controlá-los, ou matá-los, contra as quais os mais bravos cavaleiros não erguiam suas espadas, e mesmo os santos tinham sua castidade violada.

Somente a formação de bravas damas guerreiras conseguiu restaurar a vitória que parecia perdida, neutralizando o último trunfo do subterrâneo, selando seu acesso à superfície e mergulhando sua história ainda mais nas sombras.

Mas o que pareceu uma vitória final pode ter sido apenas um recuo estratégico de entidades para as quais um século é como um ano, e seu retorno pode ter sido precipitado por um evento altamente improvável que viria a libertar criaturas que agora, com a humanidade ignorante de sua natureza, se tornam ainda mais perigosas, aproveitando a oportunidade para retomar pelas próprias mãos um mundo que um dia lhes foi prometido.

25 de Maio de 2021

Meus agradecimentos aos primeiros leitores beta, que foram também os primeiros revisores amadores, pela ordem.
Eduardo Ismael (o primeiro leitor e comentarista)
Elson G. C. Felix (o que mais elogiou)
Rômulo Barbosa (Autor do Diário de Kalyn)
Fabio Duarte Ribeiro (que achou muitos erros)
Renan Surniche (que já era um leitor de meus textos)
Carol Suiter (que fez a primeira revisão profissional e segunda leitora)
Uriel Araujo (que fez a segunda revisão profissional)
Lauro Figueiredo (que ainda achou erros)
Milena Herrero (minha segunda filha, que achou mais erros!)

Ao ilustrador Samuel Leme, que produziu um trabalho artístico espantosamente superior ao amigável valor cobrado. E sobretudo à minha esposa Thais Drimel, a revisora amadora, e amante, mais exigente, e perpétua fonte de inspiração. Primeira leitora. PORÉM, aviso que a maioria não viu a versão final do livro, que foi gradativamente recebendo expansões, e a Versão N°7, final, acabou ficando praticamente com o dobro do tamanho da Versão N°1, sem contar infindáveis alterações estilísticas que fazem que mesmo trechos essencialmente iguais ganhem uma dinâmica muito diferente.

O e-book está disponível em www.amazon.com.br/As-Damas-Apocalipse-Agrat-Mahalat-ebook/dp/B093LGD8YF

O livro físico está em loja.uiclap.com/titulo/ua5230/

21 de Maio de 2021

Já disponível a Versão FÍSICA das 4 Damas do Apocalipse, na Loja UICLAP de impressão sob demanda, por R$28,21 mais o frete.

A versão e-book está disponível na Amazon www.amazon.com.br/As-Damas-Apocalipse-Agrat-Mahalat-ebook/dp/B093LGD8YF

15 de Maio de 2021

Desde antes da história a humanidade combateu os demônios do submundo, numa guerra milenar que foi sendo vencida à medida que a existência dos inimigos foi ocultada, que o conhecimento a seu respeito foi sendo confundido e esquecido, impedindo os povos que vivem sob o Sol de invocá-los e adorá-los.

Quando sua derrota parecia consumada, as hostes do Hades subverteram a guerra, enviando não mais soldados demoníacos e ferozes para combater os guerreiros humanos, mas sensuais demônias para seduzi?los e controlá-los, ou matá-los, contra as quais os mais bravos cavaleiros não erguiam suas espadas, e mesmo os santos tinham sua castidade violada.

Somente a formação de bravas damas guerreiras conseguiu restaurar a vitória que parecia perdida, neutralizando o último trunfo do subterrâneo, selando seu acesso à superfície e mergulhando sua história ainda mais nas sombras.

Mas o que pareceu uma vitória final pode ter sido apenas um recuo estratégico de entidades para as quais um século é como um ano, e seu retorno pode ter sido precipitado por um evento altamente improvável que viria a libertar criaturas que agora, com a humanidade ignorante de sua natureza, se tornam ainda mais perigosas, aproveitando a oportunidade para retomar pelas próprias mãos um mundo que um dia lhes foi prometido.

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13 de Maio de 2021

Prezáveis, esta página não será apenas de divulgação do livro, já disponível em www.amazon.com.br/As-Damas-Apocalipse-Agrat-Mahalat-ebook/dp/B093LGD8YF Em breve passarão a ser feitos posts regulares sobre mitos, lendas, filmes e livros cujos temas sejam relacionados aos abordados nas 4 Damas do Apocalipse.

10 de Maio de 2021

Prezáveis seguidores, é com imenso prazer que anuncio que As 4 Damas do Apocalipse JÁ ESTÁ À VENDA na Amazon! Versão E-book após cuidadosas revisões. A versão impressa também estará disponível ainda este mês. www.amazon.com.br/As-Damas-Apocalipse-Agrat-Mahalat-ebook/dp/B093LGD8YF

Não esqueça de também conferir o site 4damas.com.br

15 de Março de 2021

Finalmente, a primeira versão impressa de As 4 Damas do Apocalipse chega às minhas mãos. Com ela procederei a revisão final, e a partir dela os ajustes necessários para finalmente iniciar a publicação.

15 de Janeiro de 2021

No livro da Gênese, o nome Mahalat, Mahlat ou Mahlath, por vezes Maalet, Maalate, ou similares, é apenas o de uma mulher comum, se é que se pode dizer isso dos primeiros humanos cuja origem é até mesmo suspeita de descender de anjos. Agrat, ou variações como Igrat ou mesmo Igrite, também é um nome próprio. Agrat bat Mahalat significa, literalmente, "Agrat filha de Mahalat".

Já nas tradições rabínicas, muito mais herméticas, há informações diferentes. Mahalat pode significar dançarina, e Agrat bat Mahalat o demônio que dança nos telhados, mas também a rainha dos demônios, cuja carruagem lidera 18 miríades (dezenas de milhares) de mensageiros ("anjos") da destruição. Ou seja, um exército de 180 mil criaturas aladas. Também é considerada a mestra, ou amante, da feitiçaria, que comunica segredos proibidos aos praticantes da arte oculta.

O Qliphoth, a "Árvore da Morte" na tradição cabalística, a depender da interpretação, concebe Agrat bat Mahalat e as demais "anjos da prostituição" Eisheth Zenunim, Naamaah e Lilith, como forças vitais invertidas, que associadas a Samael, o "Veneno de Deus", geram toda uma hierarquia de entidades maléficas.

Mas apesar de quase uma dezena de fontes tradicionais hebraicas, assírias ou babilônicas se referir a alguma das Consortes de Samael, ainda assim as informações existentes são muito escassas, sujeitas a inúmeras interpretações e mesmo frequentemente contraditórias. A perpétua dúvida sobre a natureza espiritual ou física, ou ambas, das cosmovisões mesopotâmicas, anteriores até mesmo à questão a respeito do universo ser monista ou dualista, praticamente impede qualquer conclusão segura sobre que possíveis realidades estão ocultas sobre os véus do desconhecimento.

Uma coisa, porém, é certa. Tratam-se de forças muito superiores ao mero poder humano. E mesmo sendo forças femininas, originalmente geradoras da vida, quando invertidas, terminam servindo à morte, pois nada é mais mortífero que a reprodução desenfreada da vida. Submetidas a alguma ordem hierárquica, mesmo que demoníaca, tais forças podem ser contidas, mas à solta, com poderes além da capacidade humana, as Quatro Anjos do Prazer se tornam as Quatro Demônias da Destruição, arautos da morte, Cavaleiras, ou Damas, do Apocalipse.

Guerra, Peste, Fome e Morte.

Agrat bat Mahalat é a senhora dos exércitos.

17 de Setembro de 2020

Agrat bat Mahalath, Eisheth Zenunim, Naamaah, Lilith

16 de Abril de 2020
7 de Abril de 2020

A humanidade poderia resistir a uma hecatombe de zumbis, uma infestação de vampiros ou a uma invasão de demônios, mas foi pega sem defesa por uma epidemia de súcubos. Os homens, capazes de enfrentar qualquer das outras ameaças, se veem indefesos contra essas demônias capazes de seduzi-los de forma irresistível, mesmo sabendo que o resultado da sedução, tal qual do canto das sereias, é a morte

Por brutais atos sexuais de índice de fatalidade de mais de 99%, a população masculina vai sendo dizimada pelas sucúbias, gerando uma crise social e econômica sem precedentes, obrigando as mulheres a assumir a defesa da civilização.

Porém, não lutam apenas contra demônias irracionais mas sedutoras, pois por trás delas há criaturas muito mais poderosas e antiquíssimas, as Rainhas do Submundo, contra as quais, talvez poder algum na terra seja capaz de resistir.

Somente sociedades secretas de antigas tradições místicas, em especial as Damas da Ordem de Mikhael, podem organizar uma efetiva resistência na esperança de evitar que a humanidade seja eliminada por inimigos ancestrais que a maioria jamais imaginou terem existido.

As portas do Hades se abriram. E é só questão de tempo para que as últimas divindades da terra, Os Quatro Anjos de Samael, tornadas Damas do Apocalipse, subam à superfície.

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6 de Abril de 2020
4 de Abril de 2020